sexta-feira, 18 de junho de 2010

Aproveitamento integral dos alimentos também ajuda a reduzir o lixo

Aproveitar totalmente os alimentos evita desperdício e faz bem para a saúde

 
Apesar de algumas partes de alimentos serem muitas vezes consideradas não comestíveis, saborosas ou pouco apresentáveis, é preciso conhecer seu valor nutritivo, uma vez que podem ter quantidade igual ou superior de nutrientes quando comparado às partes que costumeiramente são consumidas.


Quantidade de nutrientes em alguns alimentos e em suas respectivas partes  
Alimento Cálcio Ferro Vitamina C Vitamina A
Abóbora 12mg 0,7mg 9,5mg 280mcg
Semente de abóbora 31mg 9,17mg 0mg 5mcg
Beterraba 32mg 2,5mg 35,2mg 2mcg
Folha de beterraba 114mg 3,1mg 50mg 525mcg
Tangerina 41mg 0,3mg 46,8mg 12mcg
Casca de tangerina 161mg 0,8mg 136mg 42mcg
Fonte: Guilherme Franco, 1999.

Assim, aproveitar integralmente os alimentos é uma atitude que traz inúmeros benefícios à saúde de qualquer indivíduo.
 
Uma alimentação composta por alimentos aproveitados integralmente torna-se mais rica e variada, com custo reduzido e permite, ainda, várias combinações e apresentações.

 


Alimentos que podem ser aproveitados integralmente:
 
Folhas de...
Cenoura, beterraba, batata doce, nabo, couve-flor, abóbora, mostarda, hortelã, brócolis e rabanete
Talos de...
Couve-flor, brócolis, beterraba
Cascas de...
Batata inglesa, banana, tangerina, laranja, mamão, pepino, maçã, abacaxi, berinjela, beterraba, melão, maracujá, goiaba, manga, abóbora
Entrecascas de...
Melancia, maracujá
Sementes de...
Abóbora, melão, jaca

 

Sobras e aparas que podem ser utilizadas,
desde que mantidas em condições seguras até o preparo:
 
Sobras de...
Podem ser utilizadas para preparar...
Carne Assada
Croquete, omelete, tortas, recheios, etc.
Carne Moída
Croquete, quibe, recheio de panqueca, bolo salgado
Arroz
Bolinho, arroz de forno, risotos
Macarrão
Salada, misturado com ovos batidos, complemento de sopa
Hortaliças
Farofa, panquecas, sopas, purês
Frutas maduras
Doces, bolo, sucos, vitaminas, geléia
Peixe e Frango
Suflês, risoto, bolo salgado
Aparas de Carne
Molhos, sopas, croquetes, recheios
Feijão
Tutu, feijão tropeiro, virado, e bolinhos
Pão amanhecido
Pudim, torradas, farinha de rosca, rabanada, bolinhos
Pés e pescoço de galinha
Sopas, farofa, caldos
Nata de leite
Biscoitos, bolo

É preciso estar atento à higienização adequada dos alimentos para que se possa utilizar as partes comumente desperdiçadas, já que na maioria das vezes os alimentos ficam expostos em diversos lugares e são manipulados por diferentes pessoas.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Você sabe o que é lixo orgânico??

Empreendedor utiliza compostos orgânicos na construção civil

Fórmula é segredo; composto serve para produção de tijolos, ladrilhos placas de isolamento térmico e brita


Transformar o lixo orgânico em tijolos resistentes e ecológicos. Esse desafio despertou a curiosidade e o empenho do administrador de empresas, Luiz Fernando Badejo Carvalho. Com mestrado em tecnologia na área de processo de engenharia, ele começou a empreitada há 15 anos.


“Ninguém imagina que possa ser possível utilizar adubo orgânico como matéria-prima na confecção de tijolo”, diz o pesquisador. Depois de muito estudo, ele chegou a um aditivo que permite a mistura do lixo, solo e cimento e resulta em tijolos resistentes e perfeitamente adequados para a construção civil. A fórmula é segredo, mas ele garante que o custo é baixo e todos os elementos da composição são fáceis de encontrar.

Para demonstrar o potencial da fabricação dos tijolos orgânicos, Badejo diz que uma cidade como o Rio de Janeiro coleta, por dia, 8 mil toneladas de resíduos domésticos e 60% podem ser transformados em adubo. “Com a adequação desse fertilizante e destinando-o à construção civil, obtém-se a cada dia 1,2 mil toneladas que, segundo cálculos, são suficientes para compor 50% de toda a alvenaria necessária para a construção de 50 mil casas ao final de um ano. Com isso, todo o lixo orgânico da cidade seria eliminado. Isto é sustentabilidade”, defende.

Para reforçar que essa transformação é plenamente comprovável, ele informa que protótipos foram analisados pelo Laboratório de Microbiologia da Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro (Comlurb), que atestou a qualidade sanitária satisfatória, e pelo Laboratório de Concretos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde foi comprovada a resistência em conformidade com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). No entanto, ressalva que são precisos recursos financeiros para a produção ganhar escala.

“Com a isenção de tributos como ICMS, IPI e obtenção de crédito de carbono, o preço final para o consumidor pode chegar a R$ 0,20. O valor equivale a 35% do preço do tijolo de cerâmica vermelha”, reforça. Baseado no mesmo princípio, Badejo desenvolveu outros produtos como ladrilhos, placas de isolamento térmico e brita.

“A disposição dos lixos em aterros aumentam o volume de emissão de metano, um dos gases que contribuem para o aquecimento global. Quanto ao uso do adubo orgânico, uma conveniência é que sua utilização é aprovada pela Nações Unidas para concessão de créditos de carbono. Além de ser ecológico, produtos feitos a partir do lixo podem empregar milhares de pessoas”, defende.

Fonte: http://ecoviagem.uol.com.br/noticias/ambiente/nosso-lixo/empreendedor-utiliza-compostos-organicos-na-construcao-civil-10740.asp

Uma saída para o lixo orgânico

Brasília - “Aqui, transformamos sobras de alimentos, cascas de verduras e frutas, restos de madeira e grama em fertilizante orgânico. Pode ser a solução para o problema do lixo nas cidades e no campo, além de ser mais simples eficaz e barato. É também uma opção ao uso dos adubos minerais”, diz o pesquisador Caio Inácio Tevês, da Embrapa Solos, no Rio de Janeiro/RJ, ao mostrar o local escolhido para instalar os recipientes construídos, e adequados, para depositar o lixo orgânico. Uma parceria entre a Embrapa e a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) utiliza os restos de alimentos produzidos pelos restaurantes e lanchonetes do Aeroporto do Galeão.

A pesquisa de Caio Inácio Teves com fertilizantes orgânicos começou quando estudava Agronomia, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Na ocasião, ele, colegas e professores buscaram um destino para cinco toneladas de lixo gerado diariamente pela entidade. O lixo, não tratado, pode causar doenças e prejudicar a saúde, além de trazer danos ambientais. O desafio era transformá-lo em adubo orgânico. Os testes começaram a ser feitos em composteiras, próximas à universidade.
O projeto da UFSC deu certo e foi adotado pela prefeitura de Garopaba, a 80 quilômetros da capital catarinense. Hoje, a cidade turística recolhe, em recipientes chamados bombonas, o lixo orgânico produzido nos restaurantes, lanchonetes, hotéis e peixarias. Todos os dias, o caminhão da coleta seletiva recolhe as “bombonas”.
Caio Inácio Tevês levou essa experiência de sucesso para, no Rio de Janeiro, desenvolver um projeto de fertilizantes orgânicos. “É uma solução simples e que resolve dois problemas comuns em propriedades agrícolas: o lixo e os preços dos fertilizantes minerais”, diz o pesquisador. Ele explica que a quantidade de adubo orgânico utilizada é muito maior que a mineral, mas os preços são muito inferiores. “O ideal é que seja utilizado em produção de hortaliças e frutas, mas nada impede seu emprego pelos produtores de soja. O que precisamos é de produção em maior escala”, define.

A iniciativa, também, resolveu o problema na Escola de Equitação do Exército, no Rio Janeiro, ao eliminar dejetos de animais. A ideia começou nos Jogos Pan-americanos, em 2007. Nas competições, as provas de hipismo reuniram 142 cavalos e mais de três mil toneladas de estrume.

A Embrapa Solos ficou encarregada de fazer a compostagem do material e transformá-lo em fertilizante orgânico, para uso nos parques e jardins da Escola do Exército. O pesquisador da Embrapa e responsável pelo projeto nos jogos, Ricardo Trippia Peixoto, conta que a preocupação da sociedade com o ambiente também é uma forma de propor a utilização de resíduos, antes inúteis, e considerar valor agregado aos dejetos de animais.

Peixoto argumenta que o processo aplicado nos Jogos Pan-americanos pode ser utilizado pelos criadores de cavalo. A técnica permite reciclar resíduos orgânicos com maior eficiência, minimizando os impactos ao meio ambiente. “Não há um número limite de cavalos para fazer a compostagem, pois a técnica permite reciclar o resíduo orgânico com muita eficiência”, esclarece o pesquisador. Nos jogos, adotou-se o procedimento de pilha com manejo dinâmico intensivo. Um pátio de compostagem, com piso de concreto, foi formado com pilhas de 4,5 metros de comprimento, três metros de largura e 1,5 metros de altura. “A geração de novos conhecimentos e aprimoramento tecnológico vêm resgatando essa técnica antiga que é a compostagem”, finaliza.

Os pesquisadores da Embrapa Solos contribuem para aumentar projetos para desenvolver novos fertilizantes orgânicos. A empresa está investindo em transferência de tecnologia de projetos, já validados, como o de Caio e Ricardo. De acordo com o pesquisador José Carlos Polidoro, a proposta é criar novos produtos para o mercado, com reaproveitamento de resíduos. “O aumento do preço dos fertilizantes químicos, que são importados, é uma grande oportunidade para o desenvolvimento de tecnologia nacional, com utilização de matéria-prima abundante no País, que é resíduo orgânico”, explica.

fonte: http://www.agronline.com.br/agronoticias/noticia.php?id=12000

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Empresa cria sistema de automação para usinas de triagem e compostagem de lixo

Restos de alimentos e de plantas, cascas de legumes e frutas, além de outros resíduos orgânicos, podem deixar de ser lixo e ganhar uma útil função na agricultura: a de adubo. Para garantir a alta qualidade desse composto natural, a empresa Inspector Engenharia, apoiada pelo edital Rio Inovação I da FAPERJ, criou um sistema que permite aperfeiçoar a transformação do material orgânico em húmus para as lavouras.

O equipamento permite a injeção automática de oxigênio no lixo orgânico, dentro da usina, favorecendo a proliferação de microrganismos que decompõem os resíduos até chegar ao adubo. Além de proporcionar um composto barato, natural, sem aditivos químicos, de alto valor nutritivo para as plantas – atestado pelo Ministério da Agricultura –, o sistema significa uma solução menos poluente para o destino do lixo doméstico e comercial, um problema sério enfrentado por centros urbanos.

“A matéria orgânica representa, em geral, 65% do peso do lixo que chega às usinas de reciclagem e compostagem. Esse material é altamente poluente, pois gera o chorume, líquido resultante da decomposição da matéria orgânica, caracterizado pelo mau cheiro e por ser rico em microrganismos patogênicos”, explica Renato Vasconcellos, sócio-gerente da Inspector. É sobre esse material que o equipamento desenvolvido pela empresa, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), vai atuar.

Na usina, o lixo passa por uma esteira, onde catadores separam materiais recicláveis – vidro, papel, garrafas, plástico etc – e não-recicláveis, como fraldas descartáveis, sapatos e utensílios metálicos. No final do processo de triagem, permanece na esteira apenas a matéria orgânica, que não oferece renda para o catador pois não é revendida. Esse material é triturado e recolhido para as baias de compostagem, um local coberto, impermeabilizado, onde fica em repouso.

Por baixo das baias, há uma rede de tubulação que injeta oxigênio na matéria orgânica. A idéia é favorecer a proliferação de microrganismos aeróbicos (que precisam de oxigênio para sobreviver), que vão digerir os resíduos, decompondo-os até transformá-los em húmus. “É como se fosse uma verdadeira fazenda de microrganismos, para a produção de adubo”, explica Vasconcelos. A presença de oxigênio também serve para matar os microrganismos anaeróbicos, que produzem o gás metano – 21 vezes mais poluentes do que o gás carbônico desprendido pelos microrganismos aeróbicos.

A Inspector Engenharia aperfeiçoou esse princípio, criando um protótipo que automatiza a injeção de oxigênio e dispensa a atuação de um técnico. A automação permite controlar de forma mais eficiente a quantidade de ar que está sendo injetada em intervalos de tempo pré-definidos de acordo com as necessidades dos microrganismos. “Se essa função fica a cargo de uma pessoa, a atividade pára nos finais de semana e no fim do expediente, o que dificulta o controle e compromete a qualidade do adubo final”, defende Vasconcelos.

A empresa, com ajuda da PUC-Rio, também está em fase de finalização de uma sonda que vai monitorar, paralelamente, a temperatura, umidade e pH do material orgânico. “O processo de decomposição gera calor. Se a temperatura se elevar acima de um determinado nível, os microrganismos morrem e a decomposição fica comprometida. Também é necessário acompanhar a umidade, pois se o ambiente fica muito seco, os microrganismos não se proliferam”, explica Vasconcelos.

O engenheiro ressalta que o aperfeiçoamento de usinas de compostagem permite reduzir a destinação de lixo a aterros sanitários e lixões a céu aberto, responsáveis pela contaminação do solo e de lençóis freáticos, mau cheiro e emissão de gases tóxicos. Mas as vantagens proporcionadas pelas usinas à população não se restringem ao âmbito ambiental. De acordo com Vasconcelos, as usinas geram dois empregos sociais para cada mil habitantes, nos municípios em que estão instaladas. “Também é possível abrir as fábricas à visita de escolas, para que os alunos ganhem consciência ambiental e a transmitam para seus pais”.

Fonte: FAPERJ - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

O Lixo nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos

Mais da metade da produção mundial de lixo urbano pertence aos cidadãos dos países desenvolvidos. A cada ano, 2,5 bilhões de fraldas são descartadas pelos britânicos, 30 milhões de câmeras fotográficas descartáveis vão para os lixos japoneses e 183 milhões de lâminas de barbear, 350 milhões de latas de spray e 2,7 bilhões de pilhas e baterias são destinadas aos lixões norte-americanos. Até as indústrias da fatia mais rica do planeta são campeãs na geração de rejeitos. Estima-se que para cada cem quilos de produtos manufaturados nos Estados Unidos, são criados 3.200 quilos de lixo. A organização indiana Centre for Science and Environment (CSE), que levantou esses dados, chegou à conclusão de que os países ricos são melhores produtores de lixo do que propriamente de bens de consumo. Os números também revelam uma faceta do sistema produtivo moderno: a quantidade de lixo produzida está diretamente associada ao grau de desenvolvimento econômico de um país. Quanto mais abastada, mais lixo a nação produz. Não é por acaso que o país mais rico do mundo, os Estados Unidos, lidera o ranking dos maiores geradores de lixo per capita do mundo, ostentando a média de quase meia tonelada de rejeitos por habitante a cada ano.

Parte da explicação desse problema está no desequilíbrio entre os povos na participação dos mercados de consumo. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) já havia levantado em 1998, em seu último relatório sobre consumo mundial, que só 20% da população do planeta é responsável por 86% dos gastos com o consumo individual. O PNUD apurou ainda que 45% das carnes e peixes consumidos no mundo vão para os pratos desse um quinto mais rico da população, o mesmo que se utiliza de 58% da energia do planeta. Do outro lado, 60% das 4,4 bilhões de pessoas que habitam os países em desenvolvimento vivem sem saneamento básico, 20% mora em habitações precárias e um terço delas não tem nem água potável. Situações sociais tão díspares também resultam em impactos diferentes sobre o meio ambiente, e os resíduos sólidos, a que comumente chamamos de lixo, estão entre eles.

O ambientalista Alan Thein Durning, diretor executivo da Norwest Environment Watch, uma ONG norte-americana, associou o consumo crescente das nações ricas aos principais problemas ambientais do planeta. Em seu livro How much is enough? The consumer society and the future of the earth (Quanto é o bastante? A sociedade de consumo e o futuro da terra), Durning dividiu o mundo em três grupos de consumo, de acordo com o impacto ambiental produzido por cada um. No topo da pirâmide, segundo o autor, está 1,1 bilhão de pessoas que andam de carro e avião, abusam dos produtos descartáveis e consomem muita comida embalada e processada. No meio, situa-se a maior parcela da população, com 3,3 bilhões de pessoas que andam de ônibus ou bicicleta, mantém um consumo frugal e se alimentam de produtos e grãos produzidos localmente. Por fim, 1,1 bilhão de indivíduos que andam a pé e não têm acesso às condições mínimas para manter a própria saúde, vivem com uma dieta irrisória de grãos e água não-potável. O estudo de Durning conclui que a fatia mais rica do globo é, de longe, a mais poluidora.

Além da quantidade, a qualidade do lixo também pode identificar o grau de riqueza de seu produtor. O papel descartado, por exemplo, poderia ser um fiel indicador de desenvolvimento econômico de uma nação, segundo dados publicados pelo periódico britânico The Economist. Nos países de baixa renda, de acordo com a publicação, o papel responde por apenas 2% do lixo; nos de renda média, o percentual sobe para 14%; e nas nações ricas, os derivados da celulose chegam a impressionantes 31%, quase um terço da montanha de lixo. Com os restos orgânicos de origem vegetal, ocorre o oposto. Na parte mais favorecida do planeta, esse lixo equivale a 25% do total; nas regiões de riqueza intermediária ele fica em 47% e onde há mais pobreza esse descarte chega a ser 52% dos rejeitos.

O lixo dos pobres e dos ricos
As diferenças entre as classes sociais na produção dos resíduos sólidos são percebidas também em escalas menores. De setembro a dezembro de 2003, a geóloga Maria de Fátima da Silva Nunesmaia, da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia, coordenou uma pesquisa que contou com a ajuda da Empresa de Limpeza Pública de Salvador (Limpurb). O grupo de Nunesmaia analisou, nesses três meses, a composição do lixo doméstico produzido pela população da capital baiana. Entre as principais diferenças encontradas entre o lixo dos mais ricos (renda familiar acima de 15 salários mínimos) e o dos desfavorecidos (renda de até cinco salários mínimos) está o percentual de resíduos orgânicos. Enquanto os soteropolitanos mais abonados têm 50% de material orgânico em seu lixo, nas camadas mais pobres essa parte representa 57%, em média. No descarte de papel e papelão, os ricos costumam ter percentualmente o dobro do montante de seus conterrâneos mais pobres, 7,28% contra 3,56%, respectivamente. Apesar do estudo minucioso, a geóloga admite que boa parte do lixo, especialmente o das classes mais ricas, pode ter sido recolhida pelos catadores antes de chegar às mãos dos pesquisadores. Uma hipótese que se reforça ao olharmos a participação dos resíduos sólidos na economia nacional.

O lixo é fonte de renda direta para mais de meio milhão de brasileiros que atuam como catadores. Foi o que apuraram as psicólogas Luiza Ferreira Medeiros e Kátia Barbosa Macedo, da Universidade Católica de Goiás. Em seu trabalho “Catador de material reciclável: uma profissão para além da sobrevivência”, publicado em 2006 na revista Psicologia & Sociedade, as duas colocam os catadores na chamada “inclusão social perversa”, uma maneira de mascarar a exclusão social de que eles são vítimas. Isso acontece porque muitos autores associam a exclusão social ao desemprego. O catador de lixo, no entanto, trabalha sem ter um emprego e assim é visto como alguém inserido na sociedade, quando, na verdade, ele pertence a uma categoria que está bem longe de gozar dos direitos e até dos tratamentos dispensados aos demais trabalhadores. Segundo a mesma pesquisa, as idéias negativas relacionadas ao lixo como algo sujo, inútil e digno de descarte são estendidas também aos catadores para os olhos de boa parte da sociedade, o que alimenta os preconceitos.

A cientista política Vanessa Baird, na Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, resume em uma frase as relações que as sociedades mantêm com os catadores de lixo: “A sociologia do lixo é simples, o rico produz e o pobre trabalha com ele. O rico que o gera é considerado ‘limpo', e o pobre que o recolhe é considerado ‘sujo'”, alfinetou a pesquisadora na publicação New Internationalist. Essa lógica discriminatória e preconceituosa foi confirmada por uma pesquisa brasileira realizada na Universidade Federal de Alagoas. Ao entrevistar catadores de lixo para a pesquisa intitulada “Lixo, trabalho e cidadania”, a socióloga Paula Yone Stroh e a geógrafa Michela de Araújo Santos coletaram o seguinte depoimento de uma catadora: “Quando a gente diz que é catador de lixo, muita gente acha que a gente é sujo... até se a gente pedir um copo d'água, e receber um caneco, quando a gente devolve a pessoa joga no mato. Já aconteceu isso comigo.”

Além de provocar esse estigma social, a reciclagem de lixo, da maneira como tem sido trabalhada, é considerada por alguns especialistas como mais um obstáculo ao desenvolvimento ambientalmente responsável da sociedade. Quem explica isso é o engenheiro sanitário Paulo Roberto Santos Moraes, da Universidade Federal da Bahia. “A mensagem que se ouve é a de que com a reciclagem o problema do lixo está resolvido, enquanto não há nenhum esforço para tentar reduzir a própria produção do lixo, que é a origem do problema”, alerta o pesquisador ao revelar que tem detectado aumentos ano após ano na quantidade de lixo produzida sem que nada seja feito a respeito. Além disso, Moraes lembra que muitas vezes não são considerados os custos ecológicos da reciclagem como os gastos com água e energia demandados no processo e que podem acabar gerando um ônus ambiental maior do que se o material fosse enterrado num aterro.

E apesar de a reciclagem ajudar economicamente muita gente e reduzir consideravelmente o volume dos aterros, no Brasil ela tem desprezado a parte do lixo que mais causa impacto ambiental, a orgânica, segundo apurou Maria de Fátima Nunesmaia. “É o lixo orgânico que polui o solo, contamina cisternas e lençóis freáticos,” diz a pesquisadora. “Como a quantidade de material orgânico é maior nas classes menos favorecidas, o Brasil possui um grande volume desse tipo de lixo sendo descartado sem nenhum tratamento”, denuncia a geóloga. A especialista aponta o exemplo do Canadá, onde o lixo orgânico tem uma participação nos resíduos sólidos bem menor que no Brasil. Naquele país, comitês regionais são responsáveis pelo tratamento do lixo orgânico em mini-usinas locais de compostagem. “Éramos nós que devíamos fazer isso e dar o exemplo ao mundo”, lamenta Nunesmaia.
US$ 10 bi no lixo a cada ano
Com um índice nacional de 20% de reciclagem, o Brasil perde por ano o montante de US$ 10 bilhões por não recuperar todo o seu lixo. A conta foi feita pelo economista especialista em meio ambiente, Sabetai Calderoni, do Instituto Brasil Ambiente. “Não tem saída, os aterros ficarão cada vez mais caros a ponto se tornarem inviáveis a qualquer prefeitura”, acredita Calderoni. Segundo ele, uma prefeitura de uma cidade de 200 mil habitantes gasta, em média, R$ 8 milhões por ano com o transporte de lixo. Se ela reciclasse todos os resíduos sólidos, além de economizar os R$ 8 milhões, ainda ganharia R$15 milhões reciclando, inclusive o lixo orgânico. “Com a vantagem de que um centro de reciclagem tem uma área sete mil vezes menor que a de um aterro sanitário”, explica o economista. O problema é que a reciclagem não agrada a todos os setores da economia.

Há grandes corporações com interesses econômicos diretamente relacionados ao aumento da produção do lixo. “Basta lembrar que a maioria das companhias de limpeza pública terceirizadas cobram por tonelada de lixo coletada”, revela o engenheiro sanitário Paulo Roberto Moraes, da UFBA. Além disso, aterros sanitários controlados têm atraído investidores internacionais ao Brasil, de olho no mercado internacional de créditos de carbono. Também há os fabricantes de embalagens que não se interessam, por motivos óbvios, em criar produtos retornáveis. Para todos esses ramos da economia, diminuir a quantidade de lixo representa ganhar menos dinheiro.

Se a superprodução já era prevista por Karl Marx como uma característica intrínseca do sistema capitalista, resta-nos uma pergunta perigosa: como o lixo também alimenta uma indústria rentável, a sua redução não seria uma contradição para o sistema produtivo moderno? “Lógico que é”, responde Moraes. “Interesses poderosos não deixaram que o Brasil tivesse até hoje uma política nacional de tratamento de resíduos sólidos. Os projetos de lei que abordaram a questão não foram adiante,” lamenta o engenheiro, para quem são necessárias mudanças educacionais e culturais em todos os níveis a fim de que o Brasil evolua nessa questão. O pesquisador recomenda as diretrizes básicas para que o capitalismo moderno não seja soterrado pelo seu próprio lixo: primeiro, devemos reduzir a produção de resíduos; segundo, reciclar o lixo que for produzido e, por fim, tratar o que não puder ser reaproveitado. Necessariamente nessa ordem.

Fonte: Ambiente Já / Revista ComCiencia

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Pequenas e grandes iniciativas para tratar do seu lixo


Depois que sustentabilidade e os cuidados com o meio ambiente se tornaram discussão frequente, diversos recursos que pretendem proteger o planeta apareceram. Começando com soluções menores, como a utilização de sacolas retornáveis (ecobags) ao invés de sacolas e embalagens plásticas, reciclagem de latas de alumínio e papel até as de maior proporção, como economizar água, punir indústrias que jogam gases poluentes na atmosfera e etc.
Há, porém, um assunto que ainda não entrou muito em discussão, que é o lixo orgânico, que é composto de matéria de origem animal ou vegetal. O processo de decomposição desta matéria resulta em chorume, líquido poluente e tóxico, que, quando não tratado, pode gerar doenças.
Uma das soluções para o problema do lixo orgânico é a compostagem, minhocários ou utilização dele para produção de biogás. No Brasil, estas práticas ainda não são largamente divulgadas, mas já há quem pratique estas iniciativas em nome do Meio Ambiente.
O SESC Tijuca, por exemplo, realiza oficinas de sustentabilidade que incluem cursos de compostagem. O projeto existe há um ano e os resultados são positivos. “Reduzimos os custos com os jardins, além de diminuir a quantidade de resíduos descartados em aterros sanitários. Além disso, também valorizamos os colaboradores que participam do projeto”, disse Tatiana Pereira, do setor sócio-educativo do SESC.
Esta é apenas uma das iniciativas fáceis de realizar para o tratamento do lixo orgânico. Mais soluções aqui em breve.
SESC Tijuca: Rua Barão de Mesquita, 539 – Tijuca.
Tel: 21 3238 2100
Funcionamento: de terça a sexta, das 12h às 21h. Sábado e domingo, das 8h às 17h.